Entrevista do Eng. Rocha Teixeira, do Gabinete de Projectos e Estratégia da STCP, publicada originalmente na Revista da Qualidade, nº 16, Março de 2007. Texto de Nuno Filipe Gomes.
A STCP prepara-se a curto prazo para reforçar a sua frota com novos autocarros “amigos do ambiente”. Quais as características deste novos veículos?
Esta é a conclusão de um processo que teve início em 2005, quando foi lançado um concurso público onde foram adjudicados mais 80 veículos movidos a gás natural, dos quais 30 articulados e 50 standard. Em princípio já este mês essas viaturas estarão a circular, passando a nossa frota a gás natural a ter 255 unidades, o correspondente a mais de 50 por cento do total da nossa frota.
A aposta neste recurso energético arrancou em 2000 e o balanço é extremamente positivo. Para além de conseguirmos ter um equipamento com uma boa prestação ambiental, permite-nos atingir a diversificação energética que procurávamos. Porque apesar de haver uma melhoria considerável das prestações ambientais dos motores a diesel, o gás natural permite obter resultados ainda mais satisfatórios, dada a relação qualidade ambiental e satisfação energética.
Este investimento obrigou a esforço em termos tecnológicos por parte da STCP?
Sinceramente não obrigou a um grande esforço tecnológico da viatura em si. Hoje em dia, para obtermos o Euro4 ou Euro5 (no caso das viaturas a diesel) há duas soluções que estão a ser utilizadas: recirculação de gases de escape ou a adição de um aditivo que transformam os óxidos de azoto em azoto e água, conseguindo assim obter os níveis ambientais. No caso específico do gás natural isso já não foi necessário e conseguimos mais facilmente atingir os níveis ambientais mais correctos sem a utilização de tecnologia extra à viatura.
Por outro lado, como estamos a trabalhar com um combustível de que as pessoas têm algum receio, foram desde o início instituídos equipamentos de segurança que não existem noutros casos específicos. No caso do carro a gás natural, se houver qualquer problema que leve a uma fuga, esta é canalizada para um único ponto, funcionando como um isqueiro, ou seja, verifica-se uma chama localizada que não se expande incendiando o veículo.
Para além disso, o facto do gás ser mais leve que o ar e a localização das botijas estarem sobre o tecto dos autocarros, permite que num caso de fuga o gás suba directamente para a atmosfera.
Se as vantagens ambientais são evidentes, no plano económico o recurso a esta nova fonte energética também significa poupança…
Sim, naturalmente que é possível apontar uma redução do custo de combustível consumido por quilómetro circulado. Essa redução depende sempre de vários factores, nomeadamente com os custos estabelecidos nos contratos de abastecimento de combustíveis. Neste caso a redução andará na ordem dos 35 por cento por quilómetro percorrido. Isto é bastante significativo, contudo também existem custos acrescidos pelo facto de tanto o custo das viaturas como o de manutenção serem mais elevados. Mesmo assim, o diferencial entre a redução do custo em combustíveis e estes dois custos adicionais leva a que esse sobrecusto seja pago em 7/8 anos.
Como as viaturas duram cerca de 13 anos temos uma margem que permite alguma economização.
Estes novos 80 autocarros a gás natural implicam um investimento total de que valor?
É um pouco difícil de apontar, visto estarmos a adquiri-las em leasing operacional, isto é, ao quilómetro. Daí que não haja um valor global do investimento definido logo à partida. Podemos pensar que um autocarro standard andará na ordem dos 240 mil euros e um articulado atinge os 350 mil euros.
Repare-se que a STCP tinha forçosamente de fazer este investimento, pois tinha uma frota muito antiga que vamos abater, com as suas insuficiências energéticas e ambientais. Se não fosse por gás teria de ser por diesel, com a vantagem que estas viaturas AEV têm uma prestação ambiental muito boa.
Para lá do gás natural, a STCP vem já há alguns anos a apostar em projectos pilotos com veículos ambientalmente mais eficientes. Quais as vantagens desta opção?
Desde a década de 90 fomos testando e experimentando várias soluções energéticas. Começamos pelo GPL, depois passamos aos bio-combustíveis, depois o gás natural e o último que testamos foi o hidrogénio. A nossa aposta passou por tentar encontrar soluções menos penalizantes a nível ambiental e com alguma sustentabilidade. Por outro lado, possibilita o desenvolvimento de tecnologias que nos permitem algumas melhorias a nível económico.
Perante todo este cenário, a certificação da STCP é cada vez mais uma realidade?
Sim, é uma aposta e estamos a trabalhar nesse sentido. Temos equipas constituídas com o objectivo de trabalhar nessa área, nomeadamente ao nível da legislação, uma vez que esta ainda é muito recente. Ou seja, a norma existe mas a sua aplicabilidade directa aos transportes teve necessidade de ser adaptada. Esse ajustamento está perto de ser concluído, avançando-se de seguida para uma nova fase deste processo de certificação. Ainda não é possível apontar a data final para estarmos certificados com a ISO 14000, mas este ano serão dados alguns passos determinantes.
A curto-médio prazo, quais os principais projectos a concretizar?
Estamos já a usar o bio-combustível, estamos a fazer uma análise cuidada e a acompanhar muito de perto a problemática do hidrogénio, que consideramos ser a energia que iremos ter no futuro. Como se sabe fomos parceiro de um projecto europeu em que utilizamos o hidrogénio em viaturas-piloto. Esse projecto já terminou, mas continuamos a acompanhar a evolução dessa matéria e estamos atentos ao que está aparecer ao nível da tecnologia, nomeadamente os modelos híbridos que poderão ser uma aposta intermédia até termos o hidrogénio disponível. Será provavelmente esse o caminho que viremos a percorrer.