Comunicado de imprensa
Os desvarios da Quercus
Em 11/Março/2016 a organização “Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza” publicou um documento intitulado “Veículos a gás natural são forma dispendiosa e ineficaz de cortar emissões nos transportes“. O referido documento reproduz outro de uma “Federação Europeia de Transportes e Ambiente”, da qual a Quercus faz parte. Indo ao sítio web da dita Federação Europeia verifica-se que ela não é a autora do estudo pois este teria sido realizado por uma organização chamada “Ricardo Energy & Environment”.
Considerando que diversos media portugueses difundiram este documento da Quercus e que o mesmo contem numerosas incorrecções e confusões, a bem do esclarecimento da opinião pública cumpre fazer as seguintes precisões:
1) O gás natural, ou metano, do ponto de vista do carbono é o melhor de todos os combustíveis que existem. Cada molécula de metano (CH4) possui um único átomo de carbono (o gasóleo ou a gasolina, por exemplo, chegam a ter até 10 átomos de carbono). Do ponto de vista ambiental o metano é, portanto, superior a todos os demais combustíveis.
2) No entanto, a crítica endossada pela Quercus não se refere ao ponto de vista ambiental e sim ao climatológico. Diz ela que “o aumento do uso de gás natural em automóveis e camiões será, em grande parte, ineficaz na redução das emissões e gases com efeito estufa (GEE)”. Ou seja, a Quercus reconhece os benefícios ambientais dos veículos a gás natural mas diz que são “ineficazes” só na óptica climatológica (contribuiriam para o chamado “aquecimento global”).
3) A APVGN recorda que:
a) Não está provado que tal afirmação seja verdadeira, pois nem a Quercus nem a referida Federação Europeia e nem a Ricardo Energy divulgaram os dados em que a mesma se baseia – não basta afirmar, é preciso demonstrar.
b) Ainda que assim fosse, os benefícios ambientais dos veículos a gás natural sobrepujam de longe os supostos malefícios dos GEE.
c) Se a Quercus está preocupada com os GEE deveria começar por combater toda a pecuária mundial, bem como toda a produção de arroz, pois ambos são emissores de metano.
d) Nenhuma das três organizações citadas é uma organização de técnicos de transportes e/ou de energia, todas elas estão voltadas para o ambiente (mas ousam emitir opiniões sobre questões climáticas para as quais não têm competências).
4) Mas a Quercus vai mais longe no seu desvario. Ela preconiza a substituição do parque automóvel existente (cerca de 6 milhões de unidades em Portugal) por veículos híbridos, eléctricos e a hidrogénio. Esta é a sua “solução”. A factibilidade disto é altamente duvidosa (até por razões financeiras), mas ainda que fosse possível isto seria mau por muitas razões. Em primeiro lugar a electricidade e o hidrogénio não são energias primárias, ou seja, elas têm de ser produzidas – e para produzi-las gasta-se energia e fazem-se emissões poluentes. Quanto aos veículos eléctricos, pouco adequados para pesados, desde Dezembro de 2015 os preços do lítio (utilizado nas baterias) mais do que duplicaram e não sabemos o que nos reserva o futuro. Quanto aos híbridos, parece um barroquismo tecnológico oneroso querer generalizar veículos com dois motores (um térmico e um eléctrico) ao invés de um. Finalmente, quanto ao hidrogénio, é delirante pensar que alguma vez se pudesse instalar uma rede mundial (ou simplesmente nacional) de postos de abastecimento. Tais alternativas são portanto só para aplicações muito especiais, não para utilização generalizada.
5) Afirma a Quercus que o “gás natural não é combustível de transição”. É aqui que ela está totalmente errada. O gás natural é precisamente um combustível de transição e atrevemo-nos a dizer que é o único combustível de transição que poderá substituir os refinados de petróleo à escala mundial. A grande vantagem do gás natural, uma energia primária, é que a sua generalização no domínio dos transportes terrestres e marítimos não exige uma revolução tecnológica como acontece com a demais “soluções” utópicas (veículos a hidrogénio, eléctricos e híbridos). Qualquer mecânico em qualquer parte do mundo sabe reparar um motor de Ciclo Otto ou de Ciclo Diesel – a transição é do combustível, não da tecnologia.
6) Finalmente, a Quercus faz duas afirmações factualmente erradas. A primeira é de que “o gás natural tem actualmente os mais baixos impostos sobre combustíveis”. Isto é falso. Como se recorda, em Novembro de 2011 o governo português aumentou a taxa de IVA do gás natural nivelando-a com a dos demais combustíveis. A APVGN considera que isto foi um tremendo erro em matéria de política energética e de transportes e reivindica o retorno da taxa reduzida de IVA para o gás natural.
7) A segunda afirmação factualmente errada endossada pela Quercus é a de que “não há nenhuma justificação para que um combustível fóssil beneficie de isenções fiscais”. É discutível que o gás natural tenha origem fóssil, mas além disso esquece-se a Quercus que o gás natural pode ser produzido pelo homem a partir de resíduos, o que contribui também para a maior limpeza do ambiente. Trata-se da produção de biometano. Neste momento circulam a biometano mais de 40 mil veículos no Sul da Suécia, além de 350 autocarros em Madrid e camiões de lixo em Lille (França). Exemplos como este são belas demonstrações de uma “economia circular”, que é ecológica e sustentável. A Quercus, como organização ambientalista, deveria defender tais soluções ao invés de tentar denegrir o gás natural. Na verdade, há mais razões para conceder benefícios aos veículos a gás natural do que a muitas outras alternativas de transporte que se revelam ruinosas para o ambiente, para os utilizadores e para a balança de pagamentos portuguesa.
Lisboa, 12 de Março de 2016
Jorge Jacob, Presidente
Jorge Figueiredo, Vice-Presidente